terça-feira, 20 de setembro de 2011

Desabafo sobre o concurso

Hoje, após conversar com alguns alunos, que também são amigos próximos, percebi em cada um deles uma certa angústia com o resultado da correção da última prova de São Paulo, cada qual a sua maneira expressava certa frustração ao perceber, ou simplesmente achar, que não terão alcançado êxito na empreitada da primeira fase.
Isso me faz lembrar das muitas vezes em que me senti assim. Geralmente me lembro desses momentos com ar de saudades e de que tudo valeu a pena, cada momento, cada angústia, cada minuto de estudo e de ausência com a família e amigos, mesmo em momentos de suma importância - como ser padrinho de casamento do amigo de uma vida e ter de dizer que não poderá, pois tem prova para fazer (agosto de 2006 - sentença em SC TRT 12 X casamento do Vanderlei).
Hoje, porém, como raramente acontece, me senti a vontade para escrever algumas coisas que sempre penso, mas que na maioria das vezes, ou quase sempre, me reservo o direito de não dizer, de guardar só para mim.
Hoje não!
Por isso, peço licença aos demais colegas que adoram, como eu, compartilhar ideias jurídicas nesse espaço, que aliás foi criado pra isso, para dizer algumas coisas que penso que podem ajudar a entender certas passagens da vida e aceitá-las, exatamente como ocorrem.
Era julho de 2004 quando resolvi que queria ser Juiz do Trabalho (com letra maiúscula mesmo, em especial nessa época, em que alcançar algo dessa grandeza era como ganhar na mega sem jogar, impossível), mas estava disposto a tentar. Como tudo que penso para minha vida, primeiro imagino, depois meço as dificuldades e por fim decido o caminho a ser tomado, simples assim.
Comprei o livro do Mauricio Godinho - famoso, de direito material do trabalho - e do Carlos Henrique Bezerrra Leite - famoso, de proesso do trabalho - para iniciar uma leitura para uma prova que ocorreria logo em seguida, pois concomitante a ideia de ser juiz, havia um edital aberto para inscrição - só para constar, até para fazer a inscrição levei horas, pelo número de informações exigidas. As dificudades eram anunciadas.
Li os livros, parte deles é claro, e fui para a prova. Como eu dava aulas nessas matérias, como eu advogava preponderantemente na trabalhista, imaginei que a primeira fase seria meu menor problema, e que depois eu ia dando um jeito, completando as leituras dos livros acima e me virando até onde desse.
Bom, nem preciso dizer a surpresa, de uma prova de 100 questões, fiz exatos 36 pontos. Estava totalmente arrasado, destroçado, como poderia eu, sendo professor e advogado trabalhista, acertar tão poucas questões, e algumas na pura sorte do  chute certo. O questionamento foi imediato, não só da capacidade de ser aprovado, mas de trabalhar com isso, seja na advocacia, seja lecionando.
O que mais me chocava é que eu, mesmo sem ter feito qualquer estágio ou curso preparatório, havia passado no exame da OAB na primeira prova, com uma excelente nota na primeira fase.
O que demorei algumas horas para entender é que eu precisava, como na época da OAB, guardadas as proporções, viver aquela situação. Então passei a me lembrar do que eu havia feito de certo na prova da OAB que não havia feito na prova da magistratura, foi então que percebi algo muito importante, e o qual quero compartilhar nesse momento com que lê esse blog.
O ser humano é capaz de fazer qualquer coisa que queira, mas a questão é querer e saber como querer e o quanto querer. Pergunte-se, várias vezes, em momentos e dias diversos, o quanto você quer alguma coisa, depois reflita, pois a resposta virá a partir de reflexão e ponderação, com todas as coisas da vida, das pessoais, espirituais as materiais, passando pelas profissionias e familiares.
Deixe que o tempo ajude a obter essa resposta, algumas pessoas levam horas, outras levam anos se perguntando, sem que a resposta se apresente de forma clara, mais uma hora ela achega, à vezes onde e quando menos esperamos.
A partir dessa certeza, de que você quer, no nosso caso ser juiz, passe a vivenciar essa ideia, passe a respirar essa ideia, passe a objetivar e profetizar todos os dias esse ideal.
Não é vergonha ser reprovado, se for o caso 1000 vezes, sofrer a dor da reprovação, sentir-se incapaz, mas nada disso pode desviá-lo do objetivo que você decidiu alcançar. Sofra algumas horas, um dia se for o caso, mas não se permita abater.
Foi assim que recebi aquela triste notícia, que eu mesmo acabava de me dar, uma nota 36, precisando de muito mais do que isso para começar a pensar no concurso, para começar a pensar em entrar na vida do concurso de fato.
No meu caso, o sofrimento foi grande e intenso, mas de curta duação, naquele mesmo dia - da publicação do gabarito - resolvi que era aquilo que eu queria ser e fazer o resto da vida. A partir dessa decisão passei a viver e respirar o concurso, todas as horas do dia em que podia eu estudava ou pensava no concurso ou no quanto eu queria ser juiz, na sala de aula, na sala de audiência, na sala do meu escritório, em casa, ou em qualquer outro lugar, sempre que me pegava pensando em algo, era no concurso e em ser aprovado.
Viver isso me ajudou a me conformar com certas situações, de cobrança especialmente, da família, da esposa, dos amigos e até as minhas próprias, toda veladas, ninguém diz honestamente, mas todos circundam o assunto, com perguntas, incentivos e isso nos cria uma responsabilidade gigante.
Uma coisa me animava a continuar, independente do tempo que demorasse, era aquele o sonho que virou desejo e depois objetivo.
Não pensem que foi rápido, nem que a aprovação na primeira fase acontenceu no dia seguinte ou no mesmo ano, demorou mais 4 concursos, até que em Campinas, em 2005, tive minha primeira aprovação na primeira fase de um concurso, com um nota 67, que não era nenhuma maravilha, mas me habilitava a seguir nas etapas seguintes - mesmo sem saber que eu ainda não estava preparado para elas - depois vieram muitas aprovações em primeira fase e algumas reprovações também - o concurso é desumano e a regra é a reprovação -, mas mesmo nessas últimas o desanimo pela reprovação era algo menor, sabendo do caminho que deveria trilhar.
Muitas pessoas me ajudaram nessa fase, conheci pessoas de alta qualidade técnica, de notas incriveís, colegas de todos os Estados do Brasil, alguns viraram amigos pra sempre, como o Raphael, Lilian, Hackiel, Norma, Rodrigo, Bedel, Fábio Branda, Renato, Assis, Homero, Nilton, dentre tantos outros, outros passaram, como colegas, cada qual seguiu seu caminho.
De tudo isso, o que posso dizer a quem hoje sofre a dor de uma nota aquém da necessária para a aprovação, é de que vocês não estão sozinhos, não são os primeiros, nem serão os útlimos, mas uma coisa diferencia quem simplesmente presta e quem  de verdade presta concurso, a vontade e o objetivo certo de vida.
Por isso, ergam as cabeças, sofram só por hoje, mas amanhã, ao amanhecer mais um lindo dia de vida, animem-se, agradeçam a Deus por terem saúde, condições e um objetivo na vida.
Lembrem-se do que vou dizer agora, quando finalmente chegar o grande dia da posse, tudo isso terá passado num piscar de olhos, digo isso por mim que levei 3 anos para ser aprovado, por amigos que levaram mais de 10 anos, só não por quem foi aprovado no primeiro concurso - esse tem o mérito da máxima eficácia, mas nunca poderá dizer que amadureceu na dor - dar valor a algo que se alcançou com muito sacrifício é algo que me segue até hoje, pauta meu trabalho e meu senso de responsabilidade. Sempre que me sinto desanimado, por qualquer razão, lembro-me do quanto pretendi estar onde estou e o quanto isso me custou.
Viva o concurso, não se esqueça das demais coisas da vida, o concurso não supre todas as nossas necessidades, somente uma parte delas, a profissional, que é muito importante, mas é só uma dentre as muitas realizações que precisamos, como a família, os amigos, mas esses, no fim da sua caminhada, ainda estarão ao seu lado, mesmo que você não os tenha visto por toda a estrada, eles nunca saíram dali, por isso, torcem, sofrem e se sentem realizados ao verem onde chegamos.
Também não se envorgonhe ou puna por achar que esse não é um caminho que lhe sirva. Ser um bom advogado, professor, procurador ou até um bom garfo, são realizações de igual ou maior grandeza. Cada um tem aquilo que procura, procure o que está dentro so seu coração, ele será seu melhor guia.
Como já diria Georges Friedmann, que sejamos vocacionados e não alienados, que percebamos o próximo e não passemos uma vida ao lado de alguém sem ao menos notar sua presença, e ao fim, teremos a certeza de que fizemos o que era nossa missão. Ao sermos postos perante nós mesmos, ao sermos julgados por um Ser superior, tenhamos a certeza de que tratamos com dignidade cada situação e cada pessoa que cruzamos no caminho.
Aos que me honram com a possibilidade de serem meus alunos, ou melhor amigos de debates jurídicos, agradeço todos os dias, ainda que em pensamento, pois isso tem me permitido crescer e manter os pés em terra firme. Jamais brinque ou duvide do sonho de alguém, pois é isso que mantem a chama da vida acesa.
Bola pra frente e estudem, sempre e o quanto for possível, o estudo permite alcançarmos maravilhas nunca imaginadas e que ninguém, nunca, em qualquer situação, poderá tirar de você.
Ame o direito e ele amará você também. Ame aquilo que faz a cada dia e garanto que a cada dia, ainda que em doses homeopáticas, você crescerá e aprenderá. Uma vida não é suficiente para aprendermos tudo, mas se não podemos aprender tudo na vida, que possamos aprender o que for possível dentro de uma vida. Não deixe que a vida passe por você, faça dela algo especial, como cada um de nós somos.
Bons estudos e até breve, enquanto Deus nos permitir.
Com grande carinho, Mauricio.

3 comentários:

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  3. PARABENS PELA VITÓRIA!!

    ADOREI TER LIDO ESTA PUBLICAÇÃO,QUE RELATA A LUTA POR UM GRANDE OBJETIVO. SEI QUE VÁRIOS OBSTACÚLOS SURGIRAM EM MEU CAMINHO, ASSIM COMO PARA VÁRIOS OUTROS ESTUDANTES DO CURSO DE DIREITO. PODE ATÉ SER DIFICÍL, MAS NÃO É IMPOSSÍVEL OBJETIVO, FOCO, E DEDICAÇÃO SÃO CHAVES PRINCIPAIS PARA SEGUIR ESTE CAMINHO, E COM CERTEZA VOU LEVAR COMO GRANDE EXEMPLO A TRAJETÓRIA DE SUA CARREIRA PROFISSIONAL,ISSO É MAIS UMA PROVA DE QUE NOSSOS SONHOS SÃO POSSIVEIS, E QUE NÃO HÁ VITÓRIA SEM LUTA. PARABENS!!!

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